A luta da família pelo meu irmão
Quando era adolescente, meu irmão começou
a ter síndromes de pânico no colégio. Aos poucos não teve mais condição de
frequentar a escola. Seu quadro foi piorando, começou a ter umas manias e
delírios. Se transformou num fanático fã da Xuxa. Tão fanático que uma vez
tentou até invadir a casa dela e foi detido pelos seguranças armados.
O diagnóstico então veio como uma bomba:
meu irmão tinha um quadro de esquizofrenia severa. Eu conto isso também porque
quando temos algum transtorno psiquiátrico, é importante avaliar a genética
como caso, na minha família aconteceram vários casos graves de perturbações da
mente, minha vó também era incapaz.
Voltando ao meu irmão, os surtos ficaram
cada vez piores, quem sofria mais era minha mãe, um cenário sinistro para ela.
Mas todos nós sentíamos a paulada, nós morávamos num condomínio, lembro que meu
irmão contava tudo que acontecia em casa, como também inventava outras coisas.
Depois de várias internações, surtos
mirabolantes, como convencer uma multinacional que ele era um inventor renomado
e mobilizar boa parte da equipe para receber ele, meu irmão foi morar com um
pastor, não tínhamos condições de ficar com ele, mas queríamos ficar sim. Só
que ele encasquetou com essa ideia.
Impressionante como ele não parava, não
dormia direito, tinha uma lábia que convencia muitos desses delírios, como
também uma disposição para arrumar brigas e confusões.
Morando com o pastor, ele muitas vezes
não tomava os remédios, desaparecia dias pela cidade, nos deixando muito
aflitos. Reparei como minha mãe tinha envelhecido, ela fazia tudo por ele.
Até que minha mãe teve um câncer e veio a
falecer, nossa preocupação no olho do furacão era como ele iria ficar, mas ele
aceitou bem. Então ficou mais calmo, embora com suas manias e surtos, morou
novamente com meu pai, que tinha casado de novo.
Após mais de 10 anos, veio outra
fatalidade, a segunda esposa do meu pai também faleceu, novamente para nossa
imensa tristeza, de câncer também. Meu irmão aceitou bem, ele era muito ligado
à madrasta.
Hoje ele mora com a família dela, com
todo nosso, continua dando muito trabalho, ele ainda teve uma trombose e perdeu
a perna, continua com seus surtos, às vezes tem que ser internado, enfim o
quadro dele sempre exigirá muito cuidado.
Cuidar de uma pessoa assim, é um trabalho
de Hércules, eu mesmo sei porque também dei muito trabalho para meus tios nas
minhas piores fases. Mas cabe a nós não desistir. A família é a base e o
alicerce. E no caso do meu irmão, comemora as pequenas vitórias e no meu caso,
no meu milagre, foi algo incrível para todos que me apoiaram nessa barra.
Sempre poderá contar com a gente, meu irmão querido.