Acho que na pré-adolescência eu já dava sinais que não era tão normal assim.
Comecei
a beber e fumar aos 12 anos, aos 13 já tomava porres homéricos daqueles que a
gente não lembra de nada o que fez.
Certa
vez fui a uma psicóloga, na época tomava um moderador de apetite chamado
Moderax. Era gordinho aos 13, e não sei ao certo se tomava esse remédio para
emagrecer ou me drogar.
Sei que
ao chegar no consultório, estava meio tonto e deprimido. Esse remédio
provavelmente nem deve vender mais, era muito forte, as pupilas ficavam
dilatadas e deixava risonho. Muito louco mesmo como dizem há tempos por aí. E o
que era pior: dava no dia seguinte uma ressaca moral e física.
A
psicóloga fazia as perguntas e mostrava figuras, ao final da consulta ela
estava séria e preocupada. Pediu por favor para que eu voltasse. Eu nunca mais
voltei.
Toda
essa rebeldia acalmou quando fui morar em São Paulo na Vila Mariana, porque
quando eu morava em Campo Grande, era triste e depressivo, revoltado e tímido,
enfim não estava bem.
Em São
Paulo emagreci, fiz esportes, arrumei namoradas e amigos, e principalmente
gostava muito da cidade.
Mas
sempre tive dificuldade de dar uma continuidade nos projetos, começava uma
coisa, me dedicava muito, até que parecia que um encosto me jogasse para baixo.
Vou contar mais sobre isso nas colunas futuras.
Mas
fico pensando: e se eu tivesse voltado à psicóloga? Talvez teria iniciado um
tratamento ou terapia e sofresse menos no futuro. Até porque muitos dos meus
excessos tenho certeza, hoje, que tinham causas emocionais.
Afinal,
todos nós sabemos que a depressão também aflige crianças e adolescentes.
Atualmente, pela velocidade online onde muitas pessoas vivem em função de likes
e celulares, acredito que o numero de depressivos entre crianças e adolescentes
tenha aumentado mais ainda.
Os primeiros sinais
Eu
sempre gostei de escrever e ler. Devorava livros, daqueles sujeitos que
qualquer pausa tinha um em mãos. Então comecei a escrever roteiros, também fiz
cursos de escrito e roteirização.
Foi
quando comecei a estagiar numa agência de marketing direto que atendia o
Bradesco, na época, apesar de ir bem, andava meio depressivo e a oportunidade
não deu certo.
Depois
tomei a decisão de entrar numas dessas agências multinacionais e badaladas.
Lembro que estudei muito, mas muito mesmo e fiz um portfólio com xerox de
produtos e marcas recortados de revistas. Até que consegui um estágio na Leo
Burnet, que atendia a Fiat, o Banco Boston, a Globo, entre outras tantas marcas
famosas.
Minha
mãe estava com câncer e piorou muito, indo para o encontro dos anjos. Eu ia ser
promovido, gostavam muito do meu trabalho, mas estava estressado e com manias
de perseguição.
Acabei
saindo da agência, lembro o quanto os diretores do alto escalão lamentaram
isso. Até hoje eu nem sei porque fiz isso, sabe tinha até uma sensação de
mutilado por ter abandonado algo que eu tinha o dom.
Abandonei
os negócios, fiquei endividado ao ponto de não ter dinheiro pra nada, vendi meu
carro com parcelas atrasadas e comprei uma passagem para Maceió.
Só
queria ir para um lugar com muito sol, nem sabia o que ia fazer direto lá,
sorte que levei meu portifólio impresso e quando estava sem dinheiro até para
pagar a pequena pousada que eu estava: arrumei um emprego de redator.
Fiquei
rodando o Nordeste por 3 anos, tipo um redator andarilho, trabalhei em Recife e
Fortaleza também. Sempre gastava todo meu dinheiro com baladas, mulheres e
bebidas. Fim do mês era de lei depender de contas que tinha nos modestos
restaurantes de prato feito.
Acabei
indo parar em Pipa, virei quase um nativo, mas fui piorando e um dia liguei
para Tia Alice e ela me mandou uma passagem para Campo Grande.
Eu não
queria fazer tratamento e minha família sabia que eu estava muito mal. Ainda
consegui trabalhar lá por 3 meses. Mas estava tão pirado que fui para São Paulo
sozinho. Ainda vou falar muito sobre essa fase, mas agora conto apenas que
morava no meu apartamento no Morumbi, só que vivendo praticamente como um
mendigo, cheguei a catar bitucas nas ruas.
Às
vezes saia pelas ruas gritando, eu estava muito mal, totalmente insano e com
delírios de traços de esquizofrenia também. Uma tarde fui a uma transportadora
de um amigo do meu pai e peguei carona no primeiro caminhão que ia para Campo
Grande.
Sujo,
magro, insano e não falando coisa com coisa. Minha família ao me ver assim teve
um choque e na marra comecei a fazer tratamento.
Essa é
a história dos inícios latentes dos meus males da mente, que me deixaram entre
altos e baixos durante longos 11 anos.