Blog Do Nicola
O psiquiatra
era um Doutor já velhinho que usava uma bengala devido a um mini-avc. Contudo,
era vivaz e eu confiava nele (Acho que foi o médico que mais acertou no meu
tratamento). Então ele disse que ia me internar na Santa Casa.
Naquela
época, eu estava bem melhor, só que totalmente viciado em Rivotril. Lembro que
cheguei a tomar um frasco de uma vez. Cheguei naquele espaço, com um belo
jardim embora descuidado, e vários quartos aos quais dividiam-se os pacientes.
Coloquei o
uniforme surrado, todos usavam, quando alguém aparecia sem: todos sabiam que
tinha chegado a hora da alta.
Eu passei 45
dias internados, as doses de Rivotril foram diminuídas aos poucos, até havia o
risco de uma convulsão. Só que eu tinha uma certeza: eu era o mais são daquele
hospital
Tinha uma
garota de 19 anos, muito bonita e de olhos verdes, que chegou de cadeiras de
rodas, ela tinha tentado o suicídio. Não era a única suicida, tinha um senhor
também que foi salvo bem no momento que ia se enforcar.
Outros estavam
totalmente fora do ponto, havia um rapaz que não podia ficar sozinho que tirava
a roupa, lembro da mãe dele, castigada pelo tempo mas com um amor incondicional
pelo filho.
O que mais
me assustava, era um homem de 30 anos, forte e gordo, ele era muito agressivo e
muitas vezes os enfermeiros tinham que amarrá-lo.
Eram uns 20
pacientes, drogados, alcoólatras, bipolares, esquizofrênicos e depressivos. Uma
garota ficou apaixonada por mim, acho que ela era bipolar, eu não quis nada com
ela, até porque algo me dizia que ali não era o lugar para isso.
Um dia ela
cortou os pulsos, tirando a gilete do Prestobarba, felizmente o corte não foi
fundo e uma enfermeira prontamente a socorreu. Muitos me culparam pela
tentativa de suicídio dela. Mas logo os médicos e enfermeiras tiraram isso da
minha cabeça.
Foram 45
dias, melhorando aos poucos, ainda fiquei uns 10 dias sem tomar Rivotril. O
tratamento da abstinência havia terminado, mas os médicos acharam melhor eu
ficar mais um tempo.
Quando sai,
senti uma excitação e felicidade muito grande. Foi como se um anjo estivesse ao
meu encalço, mostrando o começo do meu caminho para a plena recuperação.
Mais pra
frente, entendi, que para podermos evoluir no tratamento não podemos lamentar o
tempo perdido. Senão a tristeza e a mágoa trazem de volta a depressão.