Quem
passa por isso sabe a agonia e o desespero quando os remédios acabam e não
temos receitas. É muito complicado e o que ocorre é que acabamos num hospital
ou consultório suplicando por uns comprimidos.
Geralmente
os médicos percebem que o caso é grave e acabam nos passando as ditas cujas
receitas (Falo assim nos casos que não são os nossos médicos no tratamento).
O meu pior
vício foi em Rivotril, a minha psiquiatra na época, receitava 20 gotas por dia
do genérico Clonazepam. Eu logo de cara gostei desse remédio, provocava um
alívio e uma calmaria imediata.
Seu
gosto doce na hora que pingava as gotas, já ia anestesiando e relaxando meu
corpo e aí a gente capota, dorme que nem uma pedra, e pelo menos no meu caso,
nem tem sonhos.
Quando
me dei conta, estava tomando 50 gotas já, às vezes duas vezes por dia. Fui
aumentando, sempre faltava receitas e montei uma rede de médicos amigos da
minha família que me passavam as receitas.
Lógico
que eles não sabiam que estava tomando remédio a mais, era o vício que me
levava a mentir para conseguir mais Rivotril. O vício foi aumentando, comecei a
tomar Rivotril de dia, vivia anestesiado, memória péssima e sem nenhuma libido.
Fora as
distrações, acho que quase fui atropelado umas 5 vezes, vivia grogue, embebido
pelos sintomas que o Rivotril provoca. E o pior: as crises de abstinência eram
cada vez mais fortes. Cheguei a tomar dois frascos de Rivotril de uma vez, não
conseguia ficar de pé, nesta noite urinei na cama, e acho que fosse outra
pessoa que tivesse tomado a quantidade que tomei: ela teria ido dessa pra
melhor.
Lembro
que quando não conseguia as doses precisas, os sintomas de abstinência vinham
com tudo, eu tinha até alucinações e entrava num desespero total.
Fiquei
nesse ciclo de desespero para conseguir o remédio, não foram poucas vezes que
parei no Posto ou no Hospital
Quando
mudei de médico contei pra ele o que estava acontecendo. Meu novo psiquiatra
era um crítico feroz do Rivotril, tanto que ele nem receitava esse remédio para
os pacientes.
Ele me
internou, eu corria risco de ter convulsões, sozinho jamais ia conseguir parar
de tomar Rivotril. Fiquei 45 dias internado na ala de psiquiatria da Santa Casa
de Campo Grande.
Comecei
tomando 80 gotas, e com o passar dos dias, a dose foi diminuindo até que
nenhuma gota sequer foi administrada. Uma pena que essa ala da Santa Casa foi
fechada, os médicos eram ótimos, eu fiz até uma ressonância magnética do
cérebro. A equipe contava com enfermeiras e psicólogas, sem falar que fazia
parte do curso de Auxiliar de Enfermagem. Mediam nossa pressão e glicose três
vezes ao dia, tinha cinco refeições, erámos muito bem cuidados (Sobre minha
internação ainda vou falar bastante em outras oportunidades).
Depois
da internação, nunca mais coloquei Rivotril na boca e nem sinto falta. Até
porque afetou bastante minha memória, tem coisas como passagens com minha
falecida mãe que eu simplesmente esqueci.
Acho que para muitos casos Rivotril é um bom remédio.
Mas pela minha experiência, até
porque conheci outras pessoas viciadas em Rivotril, é um remédio que exige
muito cuidado e acho que não deveria ser receitado que nem água (Coloquei apenas porque é minha humilde opinião e não uma verdade médica).
A tarja preta de Rivotril e Clonazepam não está ali à toa.
Seu vício sem dúvidas é uma
paulada.
Consulte sempre seu medico.